domingo, 2 de agosto de 2015

Duzentos e cinquenta e cinco




Hoje está fazendo exatamente um mês.
1 de julho foi um dia estranho, sombrio, e certamente um dos mais tristes de minha vida.

Minha gatinha Lelé (Belinha, originalmente), de 12 anos e meio, morreu nessa data.

Já estava bem mal há um tempo e há 2 dias pensávamos já se não teria chegado o momento de tomar a mais difícil de todas as decisões. .. Aquela que todo mundo que ama um gatinho (ou cachorrinho) sabe que, inevitavelmente, pode tomar um dia.

Minha mãe disse que sempre foi contra eutanásia, até ver Lelé no estado em que ficou.
Eu não...Sempre tive claro na minha cabeça que uma coisa é uma doença que mesmo trazendo dor, é curável. Outra, bem diferente, é o animal entrar em sofrimento sem chances de cura. Mas tenho o consolo se,  naturalmente, ter me entendido com todos sobre isso...um stress a menos.

E Lelé chegou nesse ponto.
Encontrei agora esta foto dela e mal pude acreditar que foi quase
atrás! Ela sequer tinha começado a perder peso, apesar de já ser
renal. 

Estava com o diagnóstico de IRC ( Insufiência renal crônica) fechado já há alguns anos e desde 2014 estava já na base da soroterapia diária. Até que começou a perder (muito) peso e o soro começou  a não bastar...
Podia ser só uma crise no meio dessa doença crônica, mas quase duas semanas de fluidoterapia (aplicação de soro intravenosa e feita no veterinário, ao contrário da soroterapia, que é subcutânea e fazíamos em casa) não bastaram.

Ela não chegou a ficar inconsciente, o que para mim dificultou muito o processo. :(

Mas apesar de "consciente", ela estava em agonia, intoxicada por todas as toxinas que seu rim há tempos já não estava dando conta de filtrar.

Isso começou segunda à noite. Foi para mim o dia mais desesperador, vê-la assim fez a ficha cair definitivamente: Ela estava indo.

Terça levamos na vet (onde ela estava indo diariamente para a fluidoterapia) e como ela não falou nada sobre "colocá-la para dormir", e como ela não estava definitivamente mal, levamos ela para casa.

Foi uma noite ruim, ela passou miando, se debatendo, como quem não se conforma por não poder andar, beber água na pia, fazer xixi de maneira digna no banheirinho dela, e não nos panos onde dormia. :(  Água e comida, só na seringa.

Como minha mãe tinha cliente cedo na quarta, passei a noite sem dormir para não perder a hora e ir para a casa dela ficar com a gatinha.

Sua agonia estava enorme e foi péssimo vê-la assim, péssimo. Apesar disso, foi bom ter a chance de passar esses momentos com ela.

Por volta de 14 horas minha mãe voltou e fomos todas conversar com a vet, em definitivo.
Falamos o quanto ela estava sofrendo e sobre as chances de melhora dela ( nenhuma, no caso).

E, assim,com a concordância da vet de que era mesmo o melhor ... autorizamos a eutanásia.

Ficamos com ela (eu, minha mãe e Vanessa) até a dra colocar o estetoscópio e confirmar que ela tinha ido, sem mais batimentos.

Dois dias antes de partir, tomando sorinho na clínica. Última foto.
E Caraleo, que dor.

Tive que segurar muito a barra por causa de minha mãe (sempre, neh). Mas foi muito, muito foda.
Ainda que por conta do meu casamento a gente não tenha morado juntas em seus últimos anos, foram 12 anos de amizade.


Amizades nesse período começaram e terminaram, relacionamentos, carreiras, empregos, quanta coisa passamos juntas! Quantas lágrimas e sorrisos! Era uma menina quando adotei ela escondido e apareci com a nêga em casa ("Que gato feio" disse minha mãe hahahah). 

A primeira e a ultima coisa a fazer quando chegava na casa da minha mãe era SEMPRE procurar minha pretinha para dar uns amassos (nem sempre bem recebidos, rs). Era ranzinza e odiava gatos, mas que coração de ouro! Se ficava brava com algo (tipo amassos ou soro), em 3 minutos voltava, como se tivesse esquecido o que a aborreceu. <3 Se visse a gente chorando, logo se aproximava e lembro de inclusive ela ter lambido minhas lágrimas em algumas ocasiões!

Ainda está complicado ir até lá, ainda penso em procurar ela e quando vou distribuir petisco para os outros felinos nossos, ainda penso que falta a Lelé.
Carinha de "Quedê petisco!", hehehe. 

(Até seus últimos dias, bastava chacoalhar o potinho para ela aparecer, sentar ali e ficar esperando sua parte, hehehe. Depois, quando não andava mais e nem aceitava ração de nenhum tipo, ainda comia o bendito petisco, acredita?
Só no último dia, cheirou mas já não conseguia comer, articular a boquinha para morder :(     )

Segunda vez na vida que enterro um gatinho, mas isso já tinha uns 12, 13 anos.

Trouxe minha menina para casa e quando a chuva deu uma trégua, enterramos seu corpinho no fundo do quintal. Minha mãe não participou, tenho certeza de que não aguentaria. Aliás tenho uma história ótima sobre isso, mas para outro post, rs.

No começo foi bem estranho saber que ela estava ali, sei lá. Não parava de chover (NÃO PARAVA MESMO) nos dias seguintes e entrei numas nóias de "Minha gata está na chuva". Foram dias muito estranhos.

Só fui melhorar uns 4, 5 dias depois, quando finalmente parou de chover e abriu o sol. Enquanto continuou chovendo, parecia que ainda estava lá naquele 1 de julho.

Não foi só a morte dela, foram 14 dias indo diariamente para a clínica e passando lá toda a tarde, pois a clínica é popular e não trabalha com internação. Normalmente deixamos o animal na clínica e ele passa o dia tomando soro. Lá não, ficamos com ela (o que acho melhor, inclusive). Mas vi muitos casos ruins, animais nas últimas, cinomose, doença do carrapato, donos aos prantos pois perderam o animal... Já ia para lá com frio na barriga e claro que quando ela faleceu tudo pesou muito em mim!

Mas passou, como tudo na vida, melhorou. A dor ficou guardadinha aqui e a gente vai seguindo a vida.

Cerca de 10 dias depois, estive na mesma clínica para vacinar meus cães, inclusive na mesma sala onde ela partiu. :( Ficou uma sensação bem ruim, só de pegar um caminho parecido para lá já me dá uma trava no estômago.

No lugar onde ela foi enterrada, plantamos um Manacá da serra e ficou bem fofo, uma homenagem bonita. Minha mãe quando vem aqui também desce às vezes para rezar e tal.

Essa é uma doença maldita que parece ser o karma de 9 entre 10 gatinhos no final da vida (com sorte, no final). Mas com ou sem isso, a gente sabe que infelizmente eles duram menos que nós! :(


(Apesar de eu ouvir falar sobre gatinhos bem mais velhos que ela, 12 anos é pouco, equivaleria a 69 anos! Mas infelizmente Lelé ainda filhote caiu do OITAVO andar  sem sequelas a longo prazo, gastando -CLARO-seis vidas de suas já conhecidas sete. Ou seja, Irc crônica levou minha nêga cedo, rs.  )

Post relato, desses que a gente precisa escrever às vezes, para botar os sentimentos no lugar e seguir com a vida. se é que alguém ainda circula por aqui, desculpe se foi enfadonho .

Homenagem para a gatinha mais ranheta que se teve notícia e também a mais amada! <3