sábado, 22 de maio de 2010

Menos quinze

"Lembro dessa burrice bonita de que é feita a última esperança"...Foi a frase que me veio a cabeça ao ouvir você abrindo a porta para sair.Por segundos era um dia qualquer.
Esqueci a janela aberta, mas você nem parou para me ver, e quando virei você tinha ido.
Daí lembrei.
Provavelmente foi a última vez que te vi partir.
É bom acordar depois de uma noite tenebrosa dessas e perceber de que a vida continua.
Os gatos brigam, os cães mijam (sempre) onde não é apropriado, a obra continua na minha cabeça,é preciso mijar, trabalhar, comer, dormir.

Coisas mundanas perto da dor que sentimos, hoje, eu e você, e que vamos sentir por um bom tempo.
Pois é, o mundo não para para a gente sofrer...

Ainda que pareça mórbido ou cruel, gosto de pensar que esta hora um deve estar no hospital, padecendo de dores que talvez nunca venha a sentir, outros que morrerram, deixando dor e sofrimento.E que outras talvez tenham perdido membros, a capacidade de ser feliz, uma fortuna.
Me consola saber que tudo o que estou perdendo é parte de mim.

De ontem, lembro da sensação de seus cabelos na minha mão, da sensação de perceber que ainda não ultrapassei todos os limites, e da sensação de que não quero ultrapassá-los mais.

Lembro da ânsia, do engasgo de tanto chorar,da vontade de me sair correndo pela janela para não te olhar nos olhos, e lembro de me trancar no quarto com chave, pelo mesmo motivo.

Lembro de dormir e acordar com meus soluços.

Lembro da carta redentora, que disse tudo o que queria ouvir há tempos, mas tarde demias.

"Siga em frente sendo quem é(...)".

"(...) essa menina linda que você é.".

"Não mude por ninguém.".

Lembro da sensação de morrer um pouco esta hora.

Tentei ler um livro triste, para ver se percebia quanto de fútil há em minha própria tristeza.

Mas tudo o que encontrei lá foi o que gostaria de ter vivio com você,mesmo que tivesse uma interrupção absurda, como teve o amor do livro.

Ainda assim valeria à pena, pois haveria sempre o consolo de ter vivido você em sua plenitude.

Sempre esperei esta plenitude, este tempo de paz quando tudo faria sentido, quando viveríamos a paz que tanto sonhamos, a paz em nosso cantinho que você escreveu nas cartas e que eu devo ter escrito também, em outras tantas.

Houve nosso cantinho, mas nunca houve paz.

Fui procurar as cartas que lhe escrevi para guardar junto as cartas que recebi, mas era lixo, já, como é lixo o nosso romance.

Espero que no meio de tanta dor haja uma semente plantada, e que ao ver algo nascer, quem sabe faça sentido.



Ps:Vou te amar sempre, e não é uma parte só...