sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Trinta e sete

Um trecho de "Paula", de Isabel Allende...

""Iniciei De amor e de sombra em 8 de janeiro de 1983 porque esse dia me trouxera sorte com A casa dos espíritos,inaugurando assim uma tradição que ainda mantenho e não ouso alterar, sempre escrevo  a primeira linha de meus livros nesta data.Procuro ficar só e em silêncio  durante longas horas,é preciso muito tempo para tirar da cabeça o barulho da rua e varrer da memória a desordem da vida.Acendo uma vela para chamar as musas e os espíritos protetores, coloco flores na escrivaninha para afugentar o tédio e as obras completas de Pablo Neruda à sombra do computador,com a esperança de que me inspirem por osmose;se essas máquinas são infestadas por vírus,nada impede que um sopro poético venha refrescá-las.Por meio de uma cerimônia secreta, predisponho a mente e a alma para receberem em transe a primeira frase, assim se entreabre uma porta que me permite vislumbrar o outro lado e perceber os difusos contornos da história que está à minha espera.
Nos próximos meses, atravessarei o umbral para explorar aqueles espaços e, se a sorte me ajudar,pouco a pouco os personagens irão ganhando vida,ficarão cada vez mais nítidos e reais, e a narrativa será revelada.
Ignoro como e por que escrevo,meus livros não saem da cabeça, formam-se no ventre,são crianças caprichosas,dotadas de vida própria e sempre disposta a me enganar.Não  escolho o tema, é ele quem me escolhe, meu trabalho consiste simplesmente em lhe dedicar tempo suficiente,solidão e disciplina, para que ele se escreva por conta própria.""

Tudo o que penso sobre a magnífica arte de escrever um romance, ou qquer obra...

Queria muito uma história e a quietude mental necessária para escrever um livro...

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